quinta-feira, 26 de outubro de 2017

QUEM SURRUPIOU O CACHO DE BANANA DA CASA DO MARIVALDO?


Nunca imaginei que depois de mais de trinta anos fosse escrever sobre o sumiço de um cacho de bananas quase maduras da casa do meu amigo Marivaldo. Nunca imaginei que um dia teria que revelar quem surrupiou, na mão grande, aquele imenso cacho de bananas, na antiga Rua Oito no Parque São Jorge, no quilômetro 18 da Rodovia Raposo Tavares. A vida é feita de surpresas, realmente.

O que mais tinha na Rua Oito era moleque jogando bola. Moleque sem o que fazer depois de ter ido à escola. Apesar da ociosidade, amolecada era gente boa demais. Posso até dizer com toda tranquilidade que era uma rua de lazer organizado inconscientemente pelos moradores. Sem ajuda do poder público. Todo mundo conhecia todo mundo. As casas da rua eram abertas e sem a preocupação com a segurança que existe hoje.No final de semana era uma festa. A pelada dos moleques e que os adultos muitas vezes aproveitavam, era uma integração entre várias idades.  No Bar do Mané outra turma jogava dominó e outros bebiam aquela água que santo não bebe. Foi nesse cenário de alegria que sumiu o cacho de bananas da mãe do Marivaldo. 

A antiga Rua Oito de vez em quando recebia um cascalho, e no decorrer da pelada muitos moleques perdiam o tampão do dedão. Muitos moleques ralavam os joelhos. Quando erravam o chute dado na bola de qualidade duvidosa,acertavam as pedras, que faziam um estrago danado. A casa do Marivaldo ficava em uma altura que não me lembro mais devido ao tempo, mas bem na frente mesmo era onde se concentrava a molecada do bairro. A família do Maviras nunca se incomodou com o barulho das crianças, gente bacana, diferente daquele homem ranzinza que quando a bola caia no quintal dele, não devolvia a bola e quando a devolvia estava furada de faca.

Os garotos que se envolveram com o sumiço do cacho de bananas eram bacanas demais para fazer esta molecagem sozinhos. Passado tanto tempo não tenho dúvida que teve participação especial do gabiroto. Veja só!

Um belo dia a família do Marivaldo saiu para um passeio e deixou aquele belo cacho de bananas exposto, sem nenhuma proteção. Quase maduro, aguçando a imaginação e as lombrigas dos moleques. O gabiroto sugeriu. Não deu outra: os meninos da pá virada se organizaram para pegar o cacho de bananas amarelinha se comê-las. Passados mais de trinta anos, não posso revelar os nomes dos meninos, essa coisa de dedo duro não é legal, ainda mais depois de tanto tempo. Aqui não vale delação premiada. Posso revelar apenas que não foram só os meninos que surrupiaram, que comeram aquelas bananas do cacho. Vários outros personagens ajudaram a comer. Inclusive gente bem adulta. Quando a mãe do Marivaldo chegou a casa e não viu o cacho de bananas ficou brava demais. Ficou furiosa. Foi o maior bafafá.

Diante da pressão da mãe do Marivaldo, um dos meninos assumiu a culpa sozinho. Como se não bastasse, tentou reverter o erro comprando outro cacho, mas a mãe do Marivaldo não aceitou, pois o cacho de bananas roubado era bem maior. Na verdade, ela estava decepcionada com o menino. O menino que assumiu a culpa sozinho, durante muito tempo queria um perdão, porém a família do Marivaldo se mudou do bairro e sua mãe não o perdoou. Outro dia encontrei o menino, agora com quase cinquenta anos. Disse que ficou tão traumatizado que nunca mais conseguiu comer banana ou qualquer outro derivado. (Risos.)

Lição:


Mexer no cacho de bananas dos outros não compensa.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

BILHETE


Deus fica feliz com quem sabe levar a vida. Tia Antônia, com 90 anos, uniu quase todos os seus para confraternizar em seu aniversário. A felicidade está estampada em todas as fotografias vistas até agora. Eu, que não fui ao encontro, me contagiei com os que foram e voltaram revigorados. Trouxeram na alma um caminhão de boas energias. Muitos se conheceram nessa festa de fé. Fé na vida. Muitos se reencontraram nessa festa de comunhão. Toda essa sintonia de sentimento positivo nesse encontro foi emanada por essa mulher extraordinária: nossa Tia Antônia. Deixo este bilhete na porta da casa de cada um e me despeço do grupo com este belíssimo poema de Fernando Pessoa:

Navegar é Preciso,
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d] esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

No ano que vem tem mais! Deus gosta de quem se envolve com a vida.


Marcos Roberto Bueno Martinez 

sábado, 14 de outubro de 2017

UMA CARTA PRA VOCÊS, PROFESSORES!


Nesta carta não tem espaço para falar sobre as adversidades da profissão de ensinar.Sobre as adversidadesque o professor enfrenta no seu cotidiano é conversa pra outro dia. Quero enaltecê-los. Quero falar de cada um, dojeito singular de ampliaro horizonte dos nossos filhos. Fantásticos! Apresentam o mundo da palavra, das artes, da música, da fantasia e de tantas outras linguagens. O professor é um encantador de almas.

Quero falar sobre o professor que dá exemplo: do seu minguado salário tira um pouco para organizar festas, como a do dia da criança. Sem fazer alarde!Na Páscoa compra o tal ovo de chocolate com dinheiro do bolso e assim faz a alegria da criançada. Diverte-se junto com os alunos. O professor conhece nossos filhos profundamente.Sorri com eles e chora junto, muitas vezes.Nesta folha de papel quero falar da sua generosidade. Quero rasgar elogios. Ser professor não é para qualquer ser. É para um ser muito especial! Talvez seja uma das poucas profissões que para ser tem que ser demasiadamente humano.

Sabe, sou de uma família de professores. Sinto orgulho! Começou com minha avó Tereza Rivera, essa arte de ensinar. Ensinar é uma arte!A arte de socializar o conhecimento. Depois veio minha mãe, Cida, e suas irmãs Venina e Devanir. Todas elas professoras. E mais recentemente a terceira geração, com minha prima Vanessa Fusita. Uma profissão nobre. Mulheres de personalidades fortes, que mesmo diante dos desalentos da profissão tocaram em frente... Ora, cada palavra aqui escrita vem intrinsecamente acompanhada de significados. Não são adjetivos sem sentido. A minha amiga Isabel Luz, quando fala da profissão, mesmo aposentada, os olhos brilham. Que segredo tem essa profissão de ser professor?

Como é bom quando você está em algum lugar público e um ex-aluno em voz alta diz “Oi, Professor!” Quer reconhecimento melhor do que este? Legal é quando ele se lembra do primeiro livro que você leu em sala de aula, do primeiro passeio...e ainda fala de boca cheia que aprendeu muito com você. Essa profissão merece todo respeito. Você merece respeito professora, que além da jornada da sala de aula quando chega a casa tem outra jornada de trabalho. Você merece respeito Linda Rosa, da forma que planejava suas aulas de literatura, sempre pensando no melhor. Claudia Oliveira, professora maravilhosa. Jussara Miranda, minha aluna, abraçou a arte de ensinar com amor.


São só elogios: Tia Mi, Tio Luiz, Tio Rui, Tia Sílvia,vocês mudaram tanto a vida da Maria Karolina! Vocês a colocaram no mundo. No início da alfabetização, juro que achei que estava demorando muito para ela juntar as sílabas, as palavras.  Os pais normalmente querem que as coisas aconteçam no seu tempo. Do nosso jeito. E não é bem assim! De repente a Karol começou a ler os letreiros. A ler os livros infantis que tenho aqui em casa. Desabrochou como uma flor. Ampliou seu mundo. Que profissão fantástica! Professor inventa, reinventa, coloca e recoloca todos em vários mundos e assim delicadamente vai transformando nossos filhos em gente. Transformando os nossos filhos em cidadãos. Obrigado.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

SEMANA DA CRIANÇA E DOS PROFESSORES JANAÚBA: UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA


Nesta semana do dia da criança e dos professores a palavra escrita é de alerta. Alertemo-nos.

Como que alguém pode colocar fogo em uma creche e depois se matar? As causas desta loucura devem ser investigadas. As causas não são divinas. As causas são terrenas!Deus não deseja que ninguém cometa este tipo de desatino. Um segurança que estava afastado das suas funções e já apresentava desequilíbrio emocional, espalha gasolina pela creche e ateia fogo. Ao ouvir uma notícia como essa ficamos perplexos. Imaginem! Todos os dias das suas vidas as mães que perderam seus filhos lembrarão que não poderão nunca mais levá-los à escola!Não podemos perder o foco. Porque o assassino estava solto, trabalhando em uma creche, tendo um quadro diagnosticado de perturbação emocional?

Estas crianças não crescerão como nossos filhos. Aos familiares restam o lamento e as lágrimas.

Em seus sonhos as mães de Janaúba arrumarão seus filhos como todos os dias de manhã, mas acordarão angustiadas. As cenas de que eles pudessem estar vivos, eram apenas um sonho. Seus filhos foram queimados. Imagino os gritos destas crianças sendo consumidas pelo fogo. As lágrimas tomarão conta dos dias destas mães. As lágrimas tomarão conta da vida inteira destas famílias. A saudade destas mães será o livro de cabeceira.  Quais eram as condições da creche diante de uma possível catástrofe? Não podemos confiar de jeito nenhum em nossos homens públicos. Com raras exceções. Não podemos deixar a vida dos nossos filhos nas mãos destes homens públicos que exibem vaidades e indiferença com o cidadão comum. Constatou-se que a creche não tinha extintor e nem laudo técnico de segurança.

 Quantas creches funcionam neste país sem condições de receber nossos filhos? Vocês, pais, têm noção disso?  Não podemos esperar a próxima tragédia. Não podemos fazer de conta que está tudo bem, pois este nosso descaso com nossos interesses um dia pode nos pegar na curva. Até quando vamos investir na sorte? Vamos nos solidarizar, nos comover com a tragédia de Janaúba e até agradecer a Deus que não tenha sido com um de nós. A vida não é um jogo de azar. Deus não deseja que passemos indiferentes diante da vida. Não podemos esperar que os outros façam aquilo que devemos fazer. Além de deixar seu filho na creche onde ele passa o dia,você sabe das condições da escola? Quem cuida do seu filho? A tragédia da boate Kiss e da creche de Janaúba aconteceram porque alguém fez de conta que não viu as irregularidades.

A sensação de que a justiça não se faz neste país aumenta a cada dia. Infelizmente a palavra que não quer calar é“impunidade”.


Os funcionários defenderam as crianças com suas vidas. A Professora Heley de Abreu Silva Batista entrou em luta corporal com o louco. Morreu horas depois da tragédia com noventa por cento do corpo queimado. Nossa homenagem à professora Heley. E aqueles que sobreviveram ao massacre carregarão na memória a dor que sentiram seus amiguinhos que partiram. Lembrarão que tudo poderia ser diferente.  Ora, logo eles seriam adolescentes, logo seriam adultos e constituiriam família... Faz-se urgente andamos com nossa história e não a tutelarmos a ninguém. Deus gosta de gente ativa.  

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

UMA CARTA PARA TIA ANTÔNIA

Tia,solto estas palavras ao vento,que as depositará em suas mãos.

Tia Antônia, que saudade! Há quanto tempo não a vejo?Saudades do ferroviário Tio José Martins, seu companheiro de uma boa jornada. Sabe Tia, ferroviário não é uma profissão, é uma poesia. E vocês fizeram da vida uma poesia. Tenho ainda, a imagem do rosto do tio guardada nitidamente na minha memória. Noventa anos de vida,Tia? Não conheço ninguém neste mundo de meu Deus que tenha aproveitado tão bem a vida como a senhora. Boa conselheira. Guardo seus conselhos até hoje.  

Tia Antônia, que atrevimento é esse? A senhora nasceu na década de 20,considerada uma época de muitas inovações. As mulheres deixam os espartilhos de lado e passam a usar cabelos curtos. As mulheres conquistam o direito de votar nos Estados Unidos. Abusam do batom vermelho e passam a ser chamadas de melindrosas (Flapper-jovens rebeldes). Multidões enchem os cinemas para assistir ao “Gordo e o Magro” e Charles Chaplin (Carlitos). Atrevimento maior mesmo,Tia,foi criar os filhos durante esta sua jornada, quase sozinha, com a partida do Tio José. Tia, dizem que a gente começa a ser moldado no céu. Verdade! Foi aqui que uma parte de tudo começou:Ana Bozada Delgado e o comerciante Antonio Rivera Luque.

Sabe Tia, parentesco não é consanguíneo e sim espiritual. Sinto um imenso carinho e respeito pela senhora. Tem sentimento que o tempo não apaga. Tem palavra que o tempo não apaga. Tem gestos que o tempo não apaga. Tem sentimento que só aprofunda o bem-querer. Da senhora só recebi bons sentimentos. Sou grato.

Dez de Outubro de 1927. Data em que a senhora veio ao mundo. Trouxe da sua ancestralidade sabedoria que soube usar com inteligência. Depois de noventa anos a senhora nasce novamente! No ano que vem a senhora renascerá de novo. Deus gosta de gente divertida e que sabe levar a vida com sabedoria. Como a senhora.

Despeço-me desejando um feliz aniversário. Um abraço fraternal da minha mãe (Cida) da minha companheira (Germana) e meus filhos (Ícaro & Maria Karolina).


Marcos Roberto Bueno Martinez