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A
Praça Japonesa não era considerada um patrimônio histórico, mas tinha naquele
espaço um sentimento forte de duas nações. Uniu as cidades de Cotia, no Brasil,
e Ino, no Japão.A construção da Praça Japonesa conectou Cotia ao mundo. A praça
abraçou a cidade e a cidade a praça. Harmonia. Aos sábados as noivas iam até a
praça para tirar fotos e deixar registrado o começo de uma nova vida. No meio
daquelas imagens da delicadeza japonesa, os casais declaravam amor eterno. Eventos
culturais reforçavam a amizade entre Cotia e Ino. O ritual do chá na casa de
chá era algo mágico. A praça passou a ser um referencial para quem vinha de
fora. Em nome do progresso,sorrateiramente
a cor cinzenta tomou conta.
Para
quem não sabia, a Praça Japonesa era cercada de simbolismo. A praça era rodeada
de árvores típicas do Japão e cada uma,ao ser plantada, recebeu o nome de um
morador de Cotia. A casa de chá charmosa. O lago com carpas, o palco para atuações
culturais. Cada jardim, de acordo com a sua forma,tinha sentidos e
significados. Os totens e bustos de membrosda Cooperativa Agrícola de Cotia
registravam a presençajaponesa na cidade. O que sobrou da praça foi um pedaço
desconexo. Sem sentido.
Construir
estradas e ampliá-las é mais importante que um espaço de cultura e lazer.
Com
a ampliação da RaposoTavares ela foi seccionada. Dividida. Descaracterizada. Assistimos sua morte lentamente.
Sem nada poder fazer,anão ser reclamar ou esbravejar. O progresso fala mais
alto. O dinheiro fala mais alto. Neste sábado de manhã, o portal que sobrou da
praça foi incendiado. A notícia que chegou foi que o portal teria sido
incendiado por drogados ou desocupados.Não é verdade! Quem incendiou o portal
da praça foi o progresso. O descaso. A praça, com o tempo, só existirá na
memória de quem a conheceu. Peço desculpas à colônia japonesa e às autoridades
de Ino, que visitaram a praça no Centenário da Imigração
Japonesa. Infelizmente é assim que cuidamos da nossa História.
Um abraço
fraternal,
M