quinta-feira, 30 de julho de 2020

PANDEMIA: VOLTA ÀS AULAS



Será que esta é uma boa hora de voltar às aulas, quando a Covid-19 não mostra sinais de arrefecimento?
O anúncio dos Estados e Municípios da volta às aulas presenciais nas próximas semanas, provocou certa insegurança e medo nos pais em mandar seus filhos à escola. Os pais têm toda razão em estarem inseguros.O Brasil é o segundo país do mundo em número de vítimas pela Covid-19. O Brasil já registrou 90 mil mortos e está caminhando rápido para a cifra significativa de 100 mil,e mais de dois milhões e meio de infectados. As previsões não são nada otimistas. A média diária de mortos chega a mais de mil e tem assustado o país e provocado muita incerteza na população. Olhando para o mundo, a onda da pandemia já infectou mais de 15 milhões de pessoas. Deste total, 10 milhões dos infectados estão na Índia e nos EUA. Os EUA detêm quatro milhões de doentes. Os dados são alarmantes e a Covid-19 globalizou-se há tempos.O total de mortos no mundo chega a mais de 620 mil.

Para voltar às aulas neste momento de incerteza é preciso pensar em três pontos importantes:o primeiro é que o Estado Brasileiro não assumiu a liderança devida nesta crise sanitária que assola o mundo e o país. Até agora foram trocados vários ministros e o atual é ministro interino, sem ter formação na área médica. Os Estados da federação e os municípios assumiram essa responsabilidade sozinhos e de forma isolada,sem uma política clara que coordene uma ação sanitária nacional.Daí advém parte do pânico e medo dos pais em mandarem seus filhos de volta às aulas. Outro ponto nada positivo é a “politização” do vírus. Teorias conspiratórias absurdas sobre o coronavírus-19 aparecem a todo o instante. As redes sociais,com todo seu poder de informação, são utilizadas para desinformar seus usuários com notícias falsas. Lamentável. O último ponto: é preciso elaborar protocolos sanitários sérios, para que os pais passem a ganhar confiança em enviar seus filhos à escola. Neste ponto as entidades de classe, ONG’s e instituições internacionais já apresentaram protocolos sanitários e cuidados importantes no caso de volta às aulas.

Uma contribuição também importante é buscar conhecimento em países em que as aulas já se iniciaram. Temos que considerar que alguns países tiveram que voltar atrás na decisão de iniciar as aulas com a verificação do aumento da contaminação dos alunos. Não podemos jogar com a sorte quando se trata vidas humanas. Voltar às aulas no Brasil significa termos que pensar na dimensão das redes de ensino pública e privada. Temos no país mais de 181 mil estabelecimentos escolares. Segundo dados do MEC (Ministério da Educação) de 2018,a educação básica tem mais de 48 milhões de alunos ou matrículas. Desse total de matrículas, mais de 39 milhões estão em escolas públicas e quase nove milhões estão em escolas particulares. O desafio de colocar esta estrutura para funcionar novamente é imenso. Talvez não seja a hora de voltar às aulas presenciais.A participação de todos os segmentos da sociedade em um plano de ação sanitária é importante, tanto quanto sua responsabilidade e envolvimento na volta dos alunos às aulas presenciais.

As modalidades de ensino no Brasil assistem alunos que vão da creche ao Ensino Médio. Todos os alunos voltariam às aulas de uma única vez? Os alunos das creches(de 0 a 3 anos)?Os alunos da pré-escola (de 4 a5 anos)? Os alunos do Ensino Fundamental l e ll (de 6 a 14 anos)? Os alunos do Ensino Médio (de 15 a 17 anos)? Quem voltaria primeiro?  Não podemos nos esquecer dos alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e dos alunos da Educação Especial. Ora, o desafio não é apenas sanitário, mas também pedagógico e logístico. A volta deste sistema imenso conta com dois milhões e meio de professores, sem contar com funcionários administrativos e operacionais das escolas. Não são apenas números, é gente que tem família, e muitas estão impactadas com a morte de entes queridos.Como voltar às aulas neste momento?

Com a súbita chegada do coronavírus-19, municípios e estados implantaram o ensino remoto ou emergencial (ensino à distância). Porque não os manter até o final do ano, mesmo sabendo da sua precariedade,da sua ineficiência? Teríamos um tempo maior para organizar uma avaliação diagnóstica em relação ao aprendizado dos alunos. Elaborar projetos de recuperação. Pensar em saídas, sem correria. Sabemos que os alunos que vivem em estado de vulnerabilidade social já estavam perdendo e perderão mais ainda com a pandemia. Os projetos de recuperação destas crianças têm que ser sérios e eficientes.  Vidas humanas salvas valem muito mais do que um ano letivo perdido.

Marcos Martinez