Será que esta é uma boa hora de
voltar às aulas, quando a Covid-19 não mostra sinais de arrefecimento?
O anúncio dos Estados e
Municípios da volta às aulas presenciais nas próximas semanas, provocou certa
insegurança e medo nos pais em mandar seus filhos à escola. Os pais têm toda razão
em estarem inseguros.O Brasil é o segundo país do mundo em número de vítimas
pela Covid-19. O Brasil já registrou 90 mil mortos e está caminhando rápido para
a cifra significativa de 100 mil,e mais de dois milhões e meio de infectados.
As previsões não são nada otimistas. A média diária de mortos chega a mais de
mil e tem assustado o país e provocado muita incerteza na população. Olhando
para o mundo, a onda da pandemia já infectou mais de 15 milhões de pessoas.
Deste total, 10 milhões dos infectados estão na Índia e nos EUA. Os EUA detêm
quatro milhões de doentes. Os dados são alarmantes e a Covid-19 globalizou-se
há tempos.O total de mortos no mundo chega a mais de 620 mil.
Para voltar às aulas neste
momento de incerteza é preciso pensar em três pontos importantes:o primeiro é
que o Estado Brasileiro não assumiu a liderança devida nesta crise sanitária
que assola o mundo e o país. Até agora foram trocados vários ministros e o
atual é ministro interino, sem ter formação na área médica. Os Estados da
federação e os municípios assumiram essa responsabilidade sozinhos e de forma
isolada,sem uma política clara que coordene uma ação sanitária nacional.Daí
advém parte do pânico e medo dos pais em mandarem seus filhos de volta às aulas.
Outro ponto nada positivo é a “politização” do vírus. Teorias conspiratórias
absurdas sobre o coronavírus-19 aparecem a todo o instante. As redes sociais,com
todo seu poder de informação, são utilizadas para desinformar seus usuários com notícias
falsas. Lamentável. O último ponto: é preciso elaborar protocolos sanitários
sérios, para que os pais passem a ganhar confiança em enviar seus filhos à
escola. Neste ponto as entidades de classe, ONG’s e instituições internacionais
já apresentaram protocolos sanitários e cuidados importantes no caso de volta
às aulas.
Uma contribuição também
importante é buscar conhecimento em países em que as aulas já se iniciaram. Temos
que considerar que alguns países tiveram que voltar atrás na decisão de iniciar
as aulas com a verificação do aumento da contaminação dos alunos. Não podemos
jogar com a sorte quando se trata vidas humanas. Voltar às aulas no Brasil significa
termos que pensar na dimensão das redes de ensino pública e privada. Temos no
país mais de 181 mil estabelecimentos escolares. Segundo dados do MEC
(Ministério da Educação) de 2018,a educação básica tem mais de 48 milhões de alunos
ou matrículas. Desse total de matrículas, mais de 39 milhões estão em escolas públicas
e quase nove milhões estão em escolas particulares. O desafio de colocar esta
estrutura para funcionar novamente é imenso. Talvez não seja a hora de voltar às
aulas presenciais.A participação de todos os segmentos da sociedade em um plano
de ação sanitária é importante, tanto quanto sua responsabilidade e
envolvimento na volta dos alunos às aulas presenciais.
As modalidades de ensino no
Brasil assistem alunos que vão da creche ao Ensino Médio. Todos os alunos voltariam
às aulas de uma única vez? Os alunos das creches(de 0 a 3 anos)?Os alunos da
pré-escola (de 4 a5 anos)? Os alunos do Ensino Fundamental l e ll (de 6 a 14
anos)? Os alunos do Ensino Médio (de 15 a 17 anos)? Quem voltaria primeiro? Não podemos nos esquecer dos alunos da EJA (Educação
de Jovens e Adultos) e dos alunos da Educação Especial. Ora, o desafio não é
apenas sanitário, mas também pedagógico e logístico. A volta deste sistema imenso
conta com dois milhões e meio de professores, sem contar com funcionários
administrativos e operacionais das escolas. Não são apenas números, é gente que
tem família, e muitas estão impactadas com a morte de entes queridos.Como
voltar às aulas neste momento?
Com a súbita chegada do coronavírus-19,
municípios e estados implantaram o ensino remoto ou emergencial (ensino à
distância). Porque não os manter até o final do ano, mesmo sabendo da sua
precariedade,da sua ineficiência? Teríamos um tempo maior para organizar uma
avaliação diagnóstica em relação ao aprendizado dos alunos. Elaborar projetos
de recuperação. Pensar em saídas, sem correria. Sabemos que os alunos que vivem
em estado de vulnerabilidade social já estavam perdendo e perderão mais ainda
com a pandemia. Os projetos de recuperação destas crianças têm que ser sérios e
eficientes. Vidas humanas salvas valem
muito mais do que um ano letivo perdido.
Marcos Martinez