Quem não ouviu frases depreciativas em
relação a museus? Ouvimos muitas! “Quem gosta de coisa velha é museu.” Talvez essafrase
seja a mais conhecida de todas, mas háainda outras pérolas que evidenciamum
pouco da nossa ignorância. Outra frase conhecida: “Nossa, está parecendo coisa
de museu”. E assim vai... São frases que depreciam a memória e a velhice de uma
tacada só!
O Museu Nacional, que se localiza na
Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, estava caindo aos pedaços há décadas. A
última reforma, de verdade, que aconteceulá foi em 1955. As frases acima cunhadas
têm sentido quando olhamos o quanto os museus recebem de verbas públicas para
serem mantidos. São valores desprezíveis que desconsideram todo o valor
cultural que esses guardam. Os nossos museus estão realmente velhos.
Descuidados! Outros incêndios virão, com certeza, e outros museus serão
destruídos.
Agora, depois da tragédia,começam a
aparecer verbas que antes não existiam. Discursos velhos reaparecem com roupagem
nova, até a tragédia desaparecer da mídia. Aí, tudo continua velho e caindo aos
pedaços, inclusive alimentando nossa mentalidade nacional de que museu é coisa
velha. Coisa velha não merece nenhum respeito. Não merece atenção.
Museus servem para educar.
Na década de 1990, levamos centenas de alunos
de escolas estaduais do Estado de São Paulo para conhecer algumas cidades históricas
de Minas Gerais. Estudo de campo comum grupo de professores de disciplinas
diferentes e que envolvia o Ciclo do Ouro, com cada disciplina trabalhando um
tema. Um trabalho sensacional. As falas de todos os guias que nos acompanhavam
denunciavam o abandono dos museus e igrejas históricos de Minas Gerais. Peitorais
barrocos de igrejas e casarões caindo ou pendurados diante do descaso.
Os olhos dos nossos alunos brilhavam
diante das obras de Aleijadinho, em Congonhas. Brilhavam quando se defrontavam
com as igrejas históricas imponentes,carregadas de memórias. Quando viajamos,
além da aparência daquelas paredes antigas,descobrimos que aquilo que achávamos
velho não era tão velho assim. Rica em cultura,ali,naquela estrutura,está
estampada a escravidão que dizimou muitos de nós. Lá,naquelas portas,
esculturas e janelas coloniais estavam estampados a ganância e o poder,conseguidos
a qualquer custo. Vidas ceifadas. Se, de fato,quisermos construir uma memória
nacional, não podemos continuar achando que museu é só passado e cheio de
quinquilharia.
Ao visitar o Museu do Ipiranga, em São
Paulo,com alunos de escolas estaduais,fomos avisados pelos responsáveis da
instituição, na época, que não podíamos conhecer o jardim –o qual é semelhante ao
jardim do Palácio de Versalhes –, pois poderíamos ser atacados por
trombadinhas. Absurdo! Depois de tantas visitas escolares a espaços culturais e históricos,
constatávamos que os alunos estavam diferentes. Estavam mudados, transformados.
Viam museus e patrimônios históricos com outros olhos. Conhecimento. O “velho”
era trocado pela vontade de descobrir aquele mundo que estava ali e trazia
tanta informação. O fogo apaga nossa memória para sempre! Qual o próximo museu a
pegar fogo no Brasil? Como faz falta educação de boa qualidade!
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