Quando
nasci, um anjo torto me disse: vai ser gente na vida, menino!Obedeci.
(Parafraseando Carlos Drummond de Andrade). Nasci no ano de 1960,no dia 15 do mês
de maio. Tempos de contracultura, festivais, Jovem Guarda, Tropicália e outros
movimentos que transformaram o mundo nas décadas seguintes. O mundo foi virado
de ponta cabeça. Quando comecei andar os primeiros passos e a me equilibrar
sobre as pernas, era colocado em cima de uma mesa e,com a família em volta,
dançava ao ritmo de um rock androll. Nasci na cidade de Votuporanga, interior
de São Paulo, na casa da parteira Dona Catarina, de parto normal, e aos gritos
anunciei minha chegada. Dias depois fui registrado perante a lei na cidade de
Fernandópolis, com o nome de Marcos Roberto Bueno Martinez. Assim cheguei neste
mundo de meu Deus.
Nasci
filho de José Molero Martinez e Aparecida Bueno Martinez. Meu pai da cidade de
Tanabi e minha mãe da cidade de Olímpia. Meu pai era sitiante, e desde muito
jovem comercializava gado e outras produções do sítio da família. Foi
construtor de casas, marceneiro e vendedor de alumínio nas Minas Gerais, de
onde trazia queijos para vender em Votuporanga. Gostava de cantar música caipira
de Tonico e Tinoco, de Tião Carreiro e Pardinho, e outras do estilo. Foi pasteleiro,
profissão que exerceu até o fim da vida. Um homem cheio de alegria e de boa índole.
Minha mãe, filha de gente simples, desde cedo ajudava o pai nos afazeres do
sítio e a cuidar dos irmãos menores. Mulher forjada no trabalho, que correu
atrás dos seus sonhos. Ser professora era seu desejo.Estudou e fez magistério,
e a maior parte da sua vida lecionou e transmitiu seus conhecimentos para as crianças.
Mulher de fibra. Foi neste ambiente que cresci e posso dizer que vivi com
alegria.
Entrei
na Escola Primária Santa Luzia, em Votuporanga, em 1966, para inserir-me no
mundo do conhecimento. Com nove anos comecei a trabalhar como auxiliar de
sapateiro e como apanhador de algodão e maracujá na temporada de colheita. Este
trabalho eu fazia escondido do meu pai e da minha mãe, pois o desejo deles era
que eu apenas estudasse. Com onze anos trabalhei na plantação de café. Com doze
fui responsável por mais de trinta adultos
neste trabalho.Com 13 anos fui trabalhar de empacotador no Supermercado
Amazonas, na minha cidade.Porém, mesmo começando a trabalhar cedo não deixei de
ser criança. Gostava de nadar nas lagoas e córregos de Votuporanga. Quase todo
final de tarde e já no início da noite a rua ficava lotada de crianças e caíamos
nas brincadeiras. Salva-pega, esconde-esconde, apostávamos corrida, jogávamos
bola e outras brincadeiras de que não lembro o nome. O que eu mais gostava era
quando algum circo chegava à cidade. Circo do Pimentão, do Faísca. Gostava
tanto, que uma vez participei,escondido do meu pai,de uma peça de teatro com o
nome de “O Lavrador”.Assim é que fui sendo criado. Assim é que fui sendo
educado. Assim é que fui sendo moldado.
Nas
décadas de 60 e 70 o Brasil começou a deixar de ser rural, e aos poucos a
indústria dominou a economia. Surgiram os grandes centros comercias e
industriais.Muita gente do campo e das pequenas cidades do interior do país
veio buscar uma vida melhor e também uma melhor condição financeira. Foi nesta
busca que cheguei a São Paulo em 1975, há 42 anos. Cheguei a Cotia em 1978,
minha cidade do coração e onde moro até hoje. Trabalhei como empacotador na
loja Eletroradiobraz, na Rua Butantã em Pinheiros. Depois trabalhei na loja
Pelicano do Largo de Pinheiros. Depois de oito anos distante da escola, voltei
a estudar. Depois de terminar os antigos cursos Ginasial e Colegial(atuais
Ensino Fundamental e Médio), fiz faculdade e me licenciei na disciplina de
História. Durante vinte e dois anos lecionei em escolas públicas. Trabalhei na
antiga Tintas Wanda, na Nogam. Neste período me envolvi “de cabeça” em
movimentos sociais para o retorno da democracia. Cresci assim, vivendo a vida
intensamente, e foi muito bom fazer essa caminhada. Percebi o quanto as coisas vão
ficando distantes e a gente não se apercebe. Como se a memória fosse apagando
um pouco dessa vida vivida.
Durante
oito anos fui Secretário de Educação de Cotia, no período de 2001 a 2008. Fui o
primeiro Secretário de Educação a ser eleito pelos meus pares. Aquilo que
assumimos como compromisso no projeto educacional se realizou em tudo e em um
pouco mais. Construímos trinta e duas escolas, entre elas dezessete creches.
Cuidamos da situação funcional dos professores. Materiais escolares foram
distribuídos duas vezes ao ano para todos os alunos. Implantamos o transporte gratuito
escolar (TEG) no município, para facilitar a vida dos alunos que tinham
dificuldade de chegar à unidade escolar. Oferecemos merenda escolar de
qualidade. Distribuímos uniformes para todos os alunos duas vezes ao ano (verão-inverno). Com o passar do tempo, o resultado que
alcançamos, segundo o Índice Paulista de Responsabilidade Social,foi o 48º
lugar, no ano de 2006. (Antes, no ano de 2000, a cidade de Cotia aparecia na
454ª colocação – péssima).
Atualmente
trabalho em um instituto de pesquisas educacionais, o IAESP. Neste breve pedaço
da minha História conquistei amigos. Infelizmente consegui alguns inimigos. Mas
também conquistei parceiros, pois nada se faz sozinho. Desta maneira, as nossas
conquistas foram obtidas com muito esforço coletivo. Espero que nesta passagem
por aqui minha vida seja útil para alguém. Não me arrependi de nada do que fiz.
Aprendi muito com gente especial que atravessou minha trajetória. Aprendi muito
com os inimigos. Assim sendo, encerro este meu currículo e sinto-me
apresentado.
Professor Marcos
Roberto Bueno Martinez
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