quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Prefácio à 2ª Edição Os Caminhos Da História Na Moderna Leitura Dos Novos Pesquisadores

João Barcellos
Nos 450 anos de fundação de São Paulo dos Campos de Piratininga, sob projeto jesuítico do Pe. Manoel da Nóbrega, conclama-se também o Mundo para os 416 anos da fundação histórica de Cotia, que se verifica pela escritura da Sesmaria dos Índios de Pinheiros [de 12 de Outubro de 1580], e para os 148 anos de emancipação político-administrativa [2 de Abril de 1856] da velha aldeia carijó que sinalizava os vários percursos do ´piabiyu´.
A urbanidade de Cotia percebe-se a partir daquele Abril de 56, corria o Séc. XIX. Já não era somente um espaço de ruralidade a alimentar a Capital paulistana: Cotia erguia-se precariamente, mas erguia-se estabelecendo uma ordem rural própria, enquanto a Capital já bebia o cosmopolitismo das novidades industriais e culturais. Novidades que, aos poucos, iriam destruir a cultura miscigenada nas voltas da escravatura e do bandeirismo, além de esquecer a fala geral – o Tupi. Foi este conceito de ordem rural, mais popularmente conhecido por coronelismo, que impediu um crescimento urbano de raiz cultural própria a par de um desenvolvimento social e econômico em harmonia com o da Capital. Desenvolvimento que só começou a ser esboçado com a comunidade nipônica, em torno da construção e expansão da Cooperativa Agrícola Cotia [CAC]. Aí, Cotia ganhou o Mundo. Corriam os primeiros anos do Séc. XX, e veio a Indústria, a eletro-mecânica e a rural, às quais se junta a da ´era´ digital.
No livro Memória & Imagem, o professor Marcos Martinez, hoje Secretário Municipal de Educação e Cultura, em Cotia, coligiu entrevistas e dados, orais e fotográficos, e compôs um painel sócio-urbano daquela urbanidade primeva. São causos tão impregnados da alma rural que é difícil situar os personagens num contexto meramente urbano, embora o mercantilismo e o maquinário da industrialização estejam no lar de todas as pessoas ouvidas. O grande mérito de Memória & Imagem, publicado em 1999, é a tradução fiel – como fez o fotógrafo Lumi Zúnica, ao montar o acervo de imagens inéditas Cotia / Trilhas e Trilhos [2003] – do assentamento cotiano em arraiais de entorno urbano, o que começou em 1703, com a mudança da Aldeia carapicuibana do Caiapiã para o morro itapecericano, onde se situa o centro cotiano até hoje.
A busca de acervos fotográficos familiares foi, é e será, um caminho árduo na projeção de um painel sócio-cultural para se lograr uma identidade comunitária. O trabalho do Prof. Marcão, já balizado anteriormente em programas radiofônicos e textos jornalísticos locais, acabou por trazer à luz fatos históricos recentes e, outros, já celebrados pela imprensa regional. Um trabalho que contribui para dar ciência de Cotia às gerações que chegam, mas também às atuais.
BARCELLOS, João – escritor, conferencista, editor. Autor de livros sobre Cotia, como ´Oi, Cotia!´, ´Piabiyu´, ´Cotia / nas referências de são Paulo...´, ´de costa a costa com a casa às costas´ [sobre a tradição carijó que implantou a aldeia Koty] e ´Baptista Cepellos / o poeta do drama brasileiro´. Dezembro de 2003.

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