João Barcellos
Nos 450 anos de fundação de São Paulo dos Campos de Piratininga, sob projeto jesuítico do Pe. Manoel da Nóbrega, conclama-se também o Mundo para os 416 anos da fundação histórica de Cotia, que se verifica pela escritura da Sesmaria dos Índios de Pinheiros [de 12 de Outubro de 1580], e para os 148 anos de emancipação político-administrativa [2 de Abril de 1856] da velha aldeia carijó que sinalizava os vários percursos do ´piabiyu´.
A urbanidade de Cotia percebe-se a partir daquele Abril de 56, corria o Séc. XIX. Já não era somente um espaço de ruralidade a alimentar a Capital paulistana: Cotia erguia-se precariamente, mas erguia-se estabelecendo uma ordem rural própria, enquanto a Capital já bebia o cosmopolitismo das novidades industriais e culturais. Novidades que, aos poucos, iriam destruir a cultura miscigenada nas voltas da escravatura e do bandeirismo, além de esquecer a fala geral – o Tupi. Foi este conceito de ordem rural, mais popularmente conhecido por coronelismo, que impediu um crescimento urbano de raiz cultural própria a par de um desenvolvimento social e econômico em harmonia com o da Capital. Desenvolvimento que só começou a ser esboçado com a comunidade nipônica, em torno da construção e expansão da Cooperativa Agrícola Cotia [CAC]. Aí, Cotia ganhou o Mundo. Corriam os primeiros anos do Séc. XX, e veio a Indústria, a eletro-mecânica e a rural, às quais se junta a da ´era´ digital.
No livro Memória & Imagem, o professor Marcos Martinez, hoje Secretário Municipal de Educação e Cultura, em Cotia, coligiu entrevistas e dados, orais e fotográficos, e compôs um painel sócio-urbano daquela urbanidade primeva. São causos tão impregnados da alma rural que é difícil situar os personagens num contexto meramente urbano, embora o mercantilismo e o maquinário da industrialização estejam no lar de todas as pessoas ouvidas. O grande mérito de Memória & Imagem, publicado em 1999, é a tradução fiel – como fez o fotógrafo Lumi Zúnica, ao montar o acervo de imagens inéditas Cotia / Trilhas e Trilhos [2003] – do assentamento cotiano em arraiais de entorno urbano, o que começou em 1703, com a mudança da Aldeia carapicuibana do Caiapiã para o morro itapecericano, onde se situa o centro cotiano até hoje.
A busca de acervos fotográficos familiares foi, é e será, um caminho árduo na projeção de um painel sócio-cultural para se lograr uma identidade comunitária. O trabalho do Prof. Marcão, já balizado anteriormente em programas radiofônicos e textos jornalísticos locais, acabou por trazer à luz fatos históricos recentes e, outros, já celebrados pela imprensa regional. Um trabalho que contribui para dar ciência de Cotia às gerações que chegam, mas também às atuais.
BARCELLOS, João – escritor, conferencista, editor. Autor de livros sobre Cotia, como ´Oi, Cotia!´, ´Piabiyu´, ´Cotia / nas referências de são Paulo...´, ´de costa a costa com a casa às costas´ [sobre a tradição carijó que implantou a aldeia Koty] e ´Baptista Cepellos / o poeta do drama brasileiro´. Dezembro de 2003.
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