sexta-feira, 9 de novembro de 2018

TOTEM ELETRÔNICO




Ao chegar ao aeroporto de Cumbica, no início de uma madrugada, deparei-me com dezenas de totens eletrônicos e centenas de pessoasdigladiando-se com eles. Uma loucura! Corri os olhos desesperados no amplo ambiente com a intenção de localizar um atendente, mas não encontrei. O desespero aumentou... Ao lado dos totens, um rapaz atendia simpaticamente as pessoas angustiadas postadas emuma fila imensa,para tirar dúvidas de como usar aquelas maquininhas esquisitas. Até mesmo estranhas! O atendente dizia “... senhores ou senhoras”, com a maior tranquilidade do mundo, diante dos rostos apreensivos dos viajantes que desejavam fazer o check-in,“coloquem a mão no visor do totem e sigam o procedimento... Ele vai indicar aos senhores os passos seguintes”.Foi a mesma coisa que não dizer nada. Absolutamente nada! Para esconder minha ignorância, fiz de conta que tinha entendido tudo sobre aquele monstro eletrônico, bem ali na minha frente. Juro que passou uma vontade quase incontrolável de chutá-lo (rs).

Toquei o dedo no visor do totem e ele indicou o procedimento seguinte... Fiquei mais confuso ainda. Não entendi quais os passos que deveriam ser dados diante daquela tela toda colorida,para realizar o tal check-in. Quando você não consegue pensar, o corpo padece. Fiquei com as mãos geladas e suando pra caramba com medo de perder o voo.Bateu uma sensação de incompetência,achando-me o maior ignorante da face da terra. Mesmo assim não desisti! Disfarçadamente voltei para o final da fila e fiquei prestando atenção como as pessoas faziam o check-in. Muitos viajantes voltavam ao atendente do lado e pediam auxílio. Alguns pediram auxílio várias vezes... E a fila ia aumentando a cada minuto. O horário do embarque estava chegando. Desespero total. Eu olhando atentamente... Um viajante,com cara de adolescente, em menos de dois minutos fez seu check-in com a maior facilidade. Com os pés nas costas. Pensei em pedir ajuda para aquele jovem, mas fui contido pela vergonha e pelo orgulho! Imagine que eu mostraria meu analfabetismo tecnológico daquela forma. Nunca! Ilusoriamente, queria manter minha dignidade, mesmo com a possibilidade de perder a viajem para Andaluzia (rs).

Faltava pouco para, novamente, tentar,com sucesso ou não,o check-in. Desolado, imaginava que perderia aquela viagem fascinante por culpa da tecnologia. O suor tomara conta de todo o corpo, deixando a camisa encharcada. Não conseguia respirar direito. A falta de ar no cérebro deixa qualquer um quase imobilizado. Não estava sozinho nesse sofrimento!Atrás de mim uma senhora já tinha entrado pela terceira vez na fila. O seu semblante era de humilhação. Um rosto com semblante apavorado. Pensei, com certa irritação,“imagina que vou deixar essa máquina esquisita me vencer”. Jamais! Chegou a minha vez... Quando levantei a mão para colocar o dedo na tela do totem eletrônico, uma voz angelical disse “o senhor está precisando de ajuda?”. Sim! Sim! Sim! A atendente educadíssima em poucos segundos resolveu o sofrimento que me afligia há quase uma hora. Aquele sentimento de alívio e incompetência, ao mesmo tempo, desapareceu. A senhora atrás de mim na fila era só alegria. Embarquei pensando na volta.Quando chegasse em casa, teria uma aula com minha filha de 11 anos sobre como mexer com esses monstrengos eletrônicos (rs).

P.S.:na próxima viagem gostaria de encontrar mais gente de carne e osso para ajudar meu analfabetismo eletrônico.

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