Nunca
imaginei que depois de mais de trinta anos fosse escrever sobre o sumiço de um cacho
de bananas quase maduras da casa do meu amigo Marivaldo. Nunca imaginei que um
dia teria que revelar quem surrupiou, na mão grande, aquele imenso cacho de
bananas, na antiga Rua Oito no Parque São Jorge, no quilômetro 18 da Rodovia
Raposo Tavares. A vida é feita de surpresas, realmente.
O
que mais tinha na Rua Oito era moleque jogando bola. Moleque sem o que fazer
depois de ter ido à escola. Apesar da ociosidade, amolecada era gente boa demais.
Posso até dizer com toda tranquilidade que era uma rua de lazer organizado
inconscientemente pelos moradores. Sem ajuda do poder público. Todo mundo
conhecia todo mundo. As casas da rua eram abertas e sem a preocupação com a
segurança que existe hoje.No final de semana era uma festa. A pelada dos
moleques e que os adultos muitas vezes aproveitavam, era uma integração entre
várias idades. No Bar do Mané outra
turma jogava dominó e outros bebiam aquela água que santo não bebe. Foi nesse
cenário de alegria que sumiu o cacho de bananas da mãe do Marivaldo.
A antiga
Rua Oito de vez em quando recebia um cascalho, e no decorrer da pelada muitos
moleques perdiam o tampão do dedão. Muitos moleques ralavam os joelhos. Quando
erravam o chute dado na bola de qualidade duvidosa,acertavam as pedras, que
faziam um estrago danado. A casa do Marivaldo ficava em uma altura que não me
lembro mais devido ao tempo, mas bem na frente mesmo era onde
se concentrava a molecada do bairro. A família do Maviras nunca se incomodou
com o barulho das crianças, gente bacana, diferente daquele homem ranzinza que
quando a bola caia no quintal dele, não devolvia a bola e quando a devolvia estava
furada de faca.
Os
garotos que se envolveram com o sumiço do cacho de bananas eram bacanas demais
para fazer esta molecagem sozinhos. Passado tanto tempo não tenho dúvida que
teve participação especial do gabiroto. Veja só!
Um
belo dia a família do Marivaldo saiu para um passeio e deixou aquele belo cacho
de bananas exposto, sem nenhuma proteção. Quase maduro, aguçando a imaginação e
as lombrigas dos moleques. O gabiroto sugeriu. Não deu outra: os meninos da pá
virada se organizaram para pegar o cacho de bananas amarelinha se comê-las.
Passados mais de trinta anos, não posso revelar os nomes dos meninos, essa
coisa de dedo duro não é legal, ainda mais depois de tanto tempo. Aqui não vale
delação premiada. Posso revelar apenas que não foram só os meninos que surrupiaram,
que comeram aquelas bananas do cacho. Vários outros personagens ajudaram a
comer. Inclusive gente bem adulta. Quando a mãe do Marivaldo chegou a casa e não
viu o cacho de bananas ficou brava demais. Ficou furiosa. Foi o maior bafafá.
Diante
da pressão da mãe do Marivaldo, um dos meninos assumiu a culpa sozinho. Como se
não bastasse, tentou reverter o erro comprando outro cacho, mas a mãe do
Marivaldo não aceitou, pois o cacho de bananas roubado era bem maior. Na verdade,
ela estava decepcionada com o menino. O menino que assumiu a culpa sozinho,
durante muito tempo queria um perdão, porém a família do Marivaldo se mudou do
bairro e sua mãe não o perdoou. Outro dia encontrei o menino, agora com quase
cinquenta anos. Disse que ficou tão traumatizado que nunca mais conseguiu comer
banana ou qualquer outro derivado. (Risos.)
Lição:
Mexer
no cacho de bananas dos outros não compensa.