quinta-feira, 1 de novembro de 2018

VOVÓ CATARINA

Erigi um monumento mais duradouro que o bronze, 
mais alto do que a régia construção das pirâmides
que nem a voraz chuva, nem o impetuoso Áquilo 
nem a inumerável série dos anos,
nem a fuga do tempo poderão destruir.

                                                                                                                             Horácio
                                                                                                                          
Escrever o livro Memória & Imagem foi um grande presente, na medida em que me possibilitou revelar a memória de antigos moradores de Cotia. Memórias que, com o passar do tempo, estavam sendo esquecidas. Desaparecendo.Ao entrevistar esses moradores antigos,a memória de cada um deles trouxe novidades quase apagadas e desconhecidas dos novos moradores que vieram de todos os lugares do mundo aqui morar. Dona Oscarlina Pedroso Victor,com as fotos antigas nas mãos delicadas ia tecendoum mosaico das histórias desses moradores. Nesse mosaico cheio de sentimentos, apareceu a vovó Catarina, moradora da Granja Vianna. 



Ao descobri-la nesse mosaico de vidas,fui ouvi-la.Fui conhecê-la. Fui recebido por uma “velhinha” generosa...Aquela senhora de cabelos brancos e um sorriso solícito,e, sem cerimôniaalguma,foi tecendo seu mosaico danossa cidade. Um mosaico carregado de encanto.Antes de falar da Granja Vianna e de Cotia,lembrou-se do marido,companheiro de uma vida... Os olhos lacrimejaram. Frisou o amor à família. Uma senhora de sensibilidade incrível. Com gestos elegantes, serviu um café, bolachas e um delicioso pedaço de bolo e iniciamos a conversa.

Aos poucos ela foi falando das dificuldades que enfrentou ao lado do marido, José Felix de Oliveira. Lembrou emocionada de quando chegaram à fazenda do senhor Niso Vianna. A cada pincelada no passado trazia à tona uma diversidade de casos. A cada momento fisgado da memória trazia uma história. Ela e o marido estendiam um lençol branco na frente de sua casa e exibiam filmes em preto e branco. Juntava gente dos quatro cantos da cidade: Cotia, do Morro Grande e Caucaia do Alto e outros. Com aquele sorriso gostoso de ver e ouvir, revelou timidamente que, nesses encontros, saíram namoros e casamentos.

Durante anos, a vovó Catarina foi inspetora da Escola da Granja Vianna (hoje, Escola Vinícius de Moraes). Os alunos lembram-se de vovó Catarina com carinho. Relata um aluno: “Quando esses fugiam das aulas para ficar na pracinha, dona Catarina gritava lá da escola para que voltassem às aulas. Depois do terceiro chamado ela ia buscá-los educadamente, explicava as normas da escola.Respeitava os alunos e era respeitada por eles. A melhor cena que descreve dona Catarina é quando ela caminhava pela Granja Vianna era cumprimentada por todos. Ela é avó de todos os moradores da Granja Vianna. Ela é avó de todos os moradores de Cotia”.

Na conversa sempre retomava lembranças do senhor Niso Vianna. Um homem generoso,ela dizia. Trazia do seu mosaico lembranças das primeiras freiras que a fazenda recebeu para prestarem serviço social. O cuidado que o senhor Niso Vianna tinha com os funcionários da fazenda ela também relatou. Essas lembranças são um pedaço da memória da vovó Catarina. Memórias que não serão destruídas. Memórias que serão sempre lembradas. Gente com esse jeito da vovó Catarina nunca desaparece. Gente assim deixa saudade.

P S: vovó Catarina se despediu de nós em grande estilo, depois de mais de cemanos de vida. 

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