terça-feira, 18 de setembro de 2018

NUNCA DESISTA... SEMPRE RESISTA!



No texto que escrevo falo sobre sonhos. Há quase um ano conheci a professora Valéria Leite na bela cidade de Recife, em uma manhã de muito calor! A professora Valéria tentava mostrar seu trabalho –que já há algum tempo queria apresentar –, realizado durante anos em sala de aula, com alunos que apresentavam defasagem de aprendizado. Incansável na tentativa de mostrar aos amigos de profissão o seu jeito de alfabetizar,recebia indiferença. Muitos opinavam sem ao menos ter lido seu projeto,mesmo com toda evidência de fartos registros de sucesso com os alunos, com seu jeito de ensinar as palavras. As autoridades que ela procurava para mostrar seu trabalho não a recebiam. Estavam sem tempo. Recebeu alguns “nãos” de subalternos e afirmativas de que esse projeto não tinha futuro.

Como alguém que trabalha com educação não sabe ouvir? Como um educador opina sobre um projeto sem ter lido? Muitas portas se fecharam para a professora Valéria Leite, na sua tentativa de mostrar seu jeito peculiar de alfabetizar seus alunos.Mesmo diante das negativas, ela não desistiu da ideia de que aquele projeto tinha que ir além da sua sala de aula. Agora, imaginem quantos projetos em escolas neste país estão acontecendo e não são vistos. Desprezados! A falta de vontade política não deixa. A burocracia burra não deixa. Muitos não querem mudar essa situação para manter seu statusquo. Privilégios. Não pensam na comunidade, pensam em si. Mesmo assim, milhares de professores não desistem! A Valéria Leite está entre esses professores.

Prestem atenção nesta história aparentemente fantasiosa, mas verdadeira. Uma amiga de Valéria contou a um amigo sobre a luta da professora para mostrar seu trabalho sobre alfabetização. O sujeito se interessou pelo projeto e disse que tinha uma pessoa que poderia ajudá-la. Aí é que eu entro nessa história. Fui a Recife conhecer a professora Valéria. Eu a ouvi atentamente por um bom tempo.Ela falava de seu projeto com entusiasmo e alegria. Os olhos brilhavam. Olhos também que umedeciam diante das recusas que recebera. Nunca desistiu.Trocamos ideias de como poderia materializaraquele seu trabalho. Aceitou algumas sugestões.Saí de Recife com a tarefa de transformar aqueles registros de trabalho em dois livros: o livro do professor e o do aluno. Vencemos a primeira etapa. Entreguei o trabalho depois de quase um ano. Foi gratificante.


                                                              Professora Valéria Leite 
P.S.: não posso me esquecer de citar a professora Fernanda Cardoso que, durante esse tempo, foi companheira de Valéria Leite nessa luta para ela ser reconhecida; também, agradecer o companheirismo do marido da professora Valéria, o senhor Valmir, que sempre caminhou ao seu lado. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

MAS MUSEU SÓ TEM COISA VELHA, PÔ

Quem não ouviu frases depreciativas em relação a museus? Ouvimos muitas! “Quem gosta de coisa velha é museu.” Talvez essafrase seja a mais conhecida de todas, mas háainda outras pérolas que evidenciamum pouco da nossa ignorância. Outra frase conhecida: “Nossa, está parecendo coisa de museu”. E assim vai... São frases que depreciam a memória e a velhice de uma tacada só!

O Museu Nacional, que se localiza na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, estava caindo aos pedaços há décadas. A última reforma, de verdade, que aconteceulá foi em 1955. As frases acima cunhadas têm sentido quando olhamos o quanto os museus recebem de verbas públicas para serem mantidos. São valores desprezíveis que desconsideram todo o valor cultural que esses guardam. Os nossos museus estão realmente velhos. Descuidados! Outros incêndios virão, com certeza, e outros museus serão destruídos.

Agora, depois da tragédia,começam a aparecer verbas que antes não existiam. Discursos velhos reaparecem com roupagem nova, até a tragédia desaparecer da mídia. Aí, tudo continua velho e caindo aos pedaços, inclusive alimentando nossa mentalidade nacional de que museu é coisa velha. Coisa velha não merece nenhum respeito. Não merece atenção.

Museus servem para educar.

Na década de 1990, levamos centenas de alunos de escolas estaduais do Estado de São Paulo para conhecer algumas cidades históricas de Minas Gerais. Estudo de campo comum grupo de professores de disciplinas diferentes e que envolvia o Ciclo do Ouro, com cada disciplina trabalhando um tema. Um trabalho sensacional. As falas de todos os guias que nos acompanhavam denunciavam o abandono dos museus e igrejas históricos de Minas Gerais. Peitorais barrocos de igrejas e casarões caindo ou pendurados diante do descaso.

Os olhos dos nossos alunos brilhavam diante das obras de Aleijadinho, em Congonhas. Brilhavam quando se defrontavam com as igrejas históricas imponentes,carregadas de memórias. Quando viajamos, além da aparência daquelas paredes antigas,descobrimos que aquilo que achávamos velho não era tão velho assim. Rica em cultura,ali,naquela estrutura,está estampada a escravidão que dizimou muitos de nós. Lá,naquelas portas, esculturas e janelas coloniais estavam estampados a ganância e o poder,conseguidos a qualquer custo. Vidas ceifadas. Se, de fato,quisermos construir uma memória nacional, não podemos continuar achando que museu é só passado e cheio de quinquilharia.

Ao visitar o Museu do Ipiranga, em São Paulo,com alunos de escolas estaduais,fomos avisados pelos responsáveis da instituição, na época, que não podíamos conhecer o jardim –o qual é semelhante ao jardim do Palácio de Versalhes –, pois poderíamos ser atacados por trombadinhas. Absurdo! Depois de tantas visitas escolares a espaços culturais e históricos, constatávamos que os alunos estavam diferentes. Estavam mudados, transformados. Viam museus e patrimônios históricos com outros olhos. Conhecimento. O “velho” era trocado pela vontade de descobrir aquele mundo que estava ali e trazia tanta informação. O fogo apaga nossa memória para sempre! Qual o próximo museu a pegar fogo no Brasil? Como faz falta educação de boa qualidade!


P.S.: “...velho é seu passado!”