sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Cinema do Jubran



Linda Riscalla Name emociona-se ao recordar como tudo começou: uma sala de cinema simples e de paredes de taipa de pilão, localizada a rua Senador Feijó, nº 54, inaugurado no dia 1º de janeiro de 1954. Quando ela fala sobre Jubran Name, seu esposo, recorda as dificuldades da época, mas ressalta sua ousadia em abrir um Cinema em Cotia. Até hoje muitos moradores da cidade relacionam o cinema ao nome do Sr. Jubran, mas o verdadeiro nome da sala era Nossa Senhora Aparecida.

Pela conversa que tive com dona Linda, pude perceber o quanto Jubran era apaixonado pela grande tela... quando criança, brincava de fazer cinema no quintal de sua casa. Certa ocasião, Linda encontrou pelas ruas de Cotia o Tadeu Pedroso que, entusiasmado, lembra-se do cinema do Jubran ao assistir ao filme Cinema Paradiso. Sem dúvida alguma, Jubran realizou o seu sonho de ter um cinema e o dos seus telespectadores de viajarem pelo mundo através das películas.

A primeira sala tinha 168 lugares. E ao ouvir dona Linda contar como foi se construindo esse sonho é até engraçado. As paredes, que eram de taipa, com o tempo começaram a ficar esburacadas e iam sendo construídas com tijolos, aos poucos. Quase vinte anos depois, no fundo da antiga sala, se ergueu uma outra sala de cinema, sofisticada para época. Nessa sala de cinema, que faz fundo com a rua Guido Fecchio, funciona hoje a Igreja Renascer.

Uma outra certeza que devemos ter em relação a esse Cinema é que ali nasceram vários namoros. Entre os filmes de grande bilheteria estava Dio come ti amo. As filas para assistir aos filmes iam além da igreja. Outra bilheteria garantida eram os filmes do Mazzaropi. Outro gênero de sucesso eram os faroestes, como Dólar Furado, por exemplo. Além de cinema, o espaço era usado para festivais musicais, e no final do ano para formaturas, principalmente do Grupo Batista Cepelos.

O cinema funcionava de quinta a terça-feira, a partir das 20h30, e aos domingos tinha matinê, a partir das 14 horas. A quarta-feira era dia de descanso. Lembra dona Linda que na quarta-feira, ela e Jubran iam para São Paulo assistir a filmes e que quase sempre assistiam a mais de quatro fitas no dia. Este fato confirma que os dois eram verdadeiros cinéfilos. Nessa fábrica de vender sonhos que foi o Cinema do Sr. Jubran, havia dias do ano que eram especiais, de bilheteria farta, e também aqueles de bilheteria fraca.

O cinema enchia na festa de Véspera de Natal e Ano Novo – “nesse período sempre trazíamos um bom filme”, diz Linda. Quando chegava um circo ou tinha festa na cidade era com certeza sala vazia. Outra semana gloriosa para o cinema Nossa Senhora da Aparecida era a Sexta-Feira Santa. Nesse dia passavam quase 10 sessões da Paixão de Cristo.

Linda Riscalia Name, além de trabalhar na bilheteria do cinema à noite, exercia a função de professora. Durante 27 anos foi professora e coordenadora do Grupo Batista Cepelos e, às vezes, usava uma didática sedutora: o aluno que se comportava bem ganhava um ingresso. Esse critério, às vezes, era quebrado: não somente o bom aluno ganhava o ingresso, como também a classe e até mesmo a escola toda.

Há registros de que anteriormente ao Cinema do Jubran assistia-se a filmes atrás da igreja, no salão de recreação do Morro Grande e na Granja Viana, na frente da casa da Vovó Catarina. Na Granja Viana, em especial, as máquinas usadas para projetar os filmes eram do Jubran, lembra Linda.

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