quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O Que Foi E Será Paulo Bafile

Das várias formas de olhar, Marcão escolheu a mais bonita. A velha foto em preto e branco nos pega direto no coração, tudo vira documento, tudo vira coisa sagrada. Se vacilar, vira lágrima. O laquê na cabeça das mulheres, a juventude dos empreendedores, a poeira da estrada, a cruz que o povo carrega, tudo é sagrado, porque é vida.
Hoje, parece que tudo se descarta, tudo é sucesso passageiro. Naquele tempo também havia moda, e a moda passou. Mas, o que o Marcão resgata aos nossos olhos é o que importa, o que transcende – além das mesquinharias, que não interessam mais, porque não passaram de mesquinharias. O que ficou é o que interessa. Cotia está aqui, e não é a saudade do passado que nos mobiliza. É o que sempre esteve aqui – a beleza, a fé, a esperança, o bom humor. Cotia permanece, como que achando graça de tanta tolice que passa por ela. Quem olhar com atenção para as fotos e o claríssimo texto do Marcão, verá o que une os homens: as mesmas coisas do sempre. Todos nós corremos atrás delas, porque delas precisamos: a amizade, o amor, o ideal comum.
Vejam, por exemplo, a foto do bar do Savioli. Por que bater uma foto de um balcão de bar, com as pessoas olhando seriamente a câmera? Apenas porque aquelas pessoas ali sabiam que, em sua vida cotidiana, em seu trabalho ou lazer, estavam fazendo algo importante, que merecia ser documentado. Alguns poderão dizer que eram pessoas simples demais para pensarem tão longe. Mas, quem somos, senão filhos de Deus? E não seria Deus, mesmo, quem teria inspirado a todos, os fotografados e o fotógrafo, e, finalmente, o Marcão, para nos fazer chegar esta imagem tão simples e tão complexa, ao mesmo tempo?
O mesmo se pode dizer de tudo o mais, e quanto se pode dizer! O descampado onde dois homens preparam a construção do hospital. As meninas arrumadinhas carregando o andor da santa. As pesadas casas do Século XVIII, motivo de orgulho e de desdém, conforme o observador.
A grande lição das coisas é esta – o que sempre foi, será. É desnecessário falar mais, basta ver, ler. Abraço o Marcão, agradecendo a imensa honra que me proporcionou em escrever o prefácio deste trabalho tão importante. Trabalho que permanecerá, porque sempre foi.
BAFILE, Paulo – escritor, médico; Dezembro de 1998.

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